Carlos José Arruda
Professor







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Artigos e Opiniões - Mercado

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01-agosto-10   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

Napoli...

Antes de tudo, preciso falar de Napoli, cidade interessantíssima com grande participação na historia do vinho. Os napolitanos são pessoas absolutamente divertidas, impetuosas e relaxadas, que curtem a vida o tempo todo. Uma mistura turbinada de baianos e cariocas.

A origem medieval da cidade naturalmente criou ruas estreitas, as colinas contribuiram com dificuldades físicas e o espírito napolitano fez disso um transito simplesmente desvairado, onde impera a lei do mais atrevido. Não há preferência, é o estilo napolitano.

Resultado: todos, (mas todos mesmo) veículos da cidade têm inúmeros amassados em todos os lados e aparentemente ninguém conserta, pois não deve valer a pena. Divertida e caótica, Napoli segue firme como roteiro turístico, com o Mediterrâneo como fundo e o Vesúvio como emblema. Adorável.

Vitigno Italia 2010

Participando da feira Vitigno Italia 2010, dedicada à produção autóctone, tive oportunidade de conhecer a fundo a vinicultura do sul da Itália, retratando a tipicidade de inúmeras variedades regionais. Aliás, encontrei uvas que não conhecia, num espectro riquíssimo e muito representativo das regiões da Campania, Puglia, Sicilia, Marche, Molise, Basilicata.

Esta iniciativa, que premia o mercado de vinhos tradicionais, mostra também que nem só de passado vivem os vinicultores italianos: muita criatividade vem surgindo num cenário de séculos.

A feira aconteceu num castelo medieval em plena Baía de Napoli, um cenário marcante para reforçar o legado histórico da cidade e também da vinicultura do sul da Itália, berço do desenvolvimento do vinho na Europa. O ambiente do Castello Dell`Ovo não podia ser mais inspirador, lembrando-nos o tempo todo da carga de tradição do vinho no sul da Itália. Entre paredes de pedra, grutas escavadas na rocha e vielas milenares estavam presentes produtores de toda a Itália, mas aqui só entram vinhos de uvas autóctones...

Em outras câmaras aconteceram encontros de negócios, palestras e degustações diversas, entre elas uma memorável vertical de Taurasi Mastroberardino, iniciando pela safra 1968!

As uvas da Campania

Dentre os produtores presentes, uma vasta maioria era da Campania, região hospedeira da feira, sendo uma ótima oportunidade de provar e comparar dezenas de rótulos de Falanghina, Fiano, Greco e Aglianico, as principais uvas da região. Aproveitei para comparar exemplares dessa produção local, que tem um conjunto muito típico e consistente, com variações de personalidade para cada produtor.

Falanghina:O branco típico da Campania, delicado e cítrico, com notas de frutas brancas e níveis variados de mineralidade, dadas pelo solo vulcânico da região. Corpo de leve a médio, alguns são cítricos demais, outros minerais demais. Alguns produtores, como Villa Matilde, chegam a um resultado bastante elegante e equilibrado, como no notável Caracci, da DOC Falerno di Massico.

Fiano di Avellino: Esta uva pode produzir vinhos da DOC Sannio ou da DOCG Fiano di Avellino, situada nas cercanias de Avellino. Sua suas notas típicas são de frutas brancas maduras, mel, algumas frutas secas. É um branco saboroso, pode ter corpo entre médio ou maior, boa persistência e geralmente bastante elegante. Os Sannio podem mostrar a mineralidade típica da região de Benevento, mas os de Avellino são mais elegantes e encorpados, podendo evoluir muito bem no tempo (graças à mesma mineralidade). Encontrei espumantes de Fiano, frescos, aromáticos e saborosos.

Greco: Esta uva pode produzir vinhos da DOC Sannio ou da DOCG Greco di Tufo, produzido nas cercanias de Avellino. Esta uva é cultivada na região há mais de dois mil anos. As notas típicas são de frutas brancas, cítricos, frutas secas e um toque de mineralidade, marcante no caso da DOCG, devida ao solo de tufas vulcânicas (daí o nome). Graciosos e elegantes, saborosos e frescos, os vinhos de Greco mantém sua personalidade sempre. Também encontrei espumantes, frescos e interessantes, mas onde a mineralidade pode exceder às vezes.

Aglianico: Esta uva tinta é onipresente na Campania e na Basilicata Em edições anteriores da Vitignoitalia foi a uva predominante para degustação. Foi trazida pelos gregos e seu nome pode ser derivado da palavra hellenica. As notas típicas são de frutas negras, terra, café e couro, e os taninos são bastante rústicos e dominantes. Na Campania, as principais denominações onde aparece são a mesma Sannio e na Irpinia, além da DOCG Taurasi (destaque para o excelente Mastroberardino).

Os tintos de Aglianico costumam ser demasiado rústicos e tânicos, precisando de alguns 3-5 anos para serem bebidos. Encontrei algumas propostas modernas, como da Fattoria La Rivolta, que mostram elegância no estilo rústico em vinhos muito ricos e bebíveis ainda relativamente jovens. Fazem inclusive um rosé muito interessante, o Le Montgolfiere a San Bruno. O tinto Terre de Rivolta é sensacional.

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