Carlos José Arruda
Professor








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Espanha
Introdução Mais

A Espanha é o país com a maior área de vinhedos do mundo.

Ocupando mais de 80% da Península Ibérica, seu território possui diversos microclimas, conforme sua constituição geográfica e suas diferentes relações com o Oceano Atlântico, o Mar Mediterrâneo, a França e Portugal.

Decidimos agrupar as localidades produtoras de vinhos em regiões, segundo suas características geográficas e climáticas, constituindo setores que compartilham condições similares para a produção de vinhos.

Apesar de não ser uma classificação oficial, essa divisão facilita a percepção dos diversos terroirs existentes no país.


Mapa vinícola da Espanha ( © Javier Belloso )

Mapa vinícola da Espanha ( © Javier Belloso )

Geografia e Clima

A Espanha ocupa a maior parte da Península Ibérica e seu território possui muitas variações climáticas resultantes da sua configuração geográfica.

É importante entender essas variações, pois elas respondem pelas diferentes características dos vinhos das Denominações de Origem (DO) existentes.

Para facilitar essa compreensão, separamos o território espanhol em sub-regiões, de acordo com as barreiras geográficas e as influências marítimas, mas essa não é uma classificação oficial, é uma divisão adotada por nós, com objetivo meramente didático.

Inicialmente temos a influência do Oceano Atlântico, que, devido à presença de Portugal, fica dividida entre o norte, próximo à França, afetando os vinhedos da Galicia e do País Basco e ao sul banha a Andalucia, em torno de Jerez de La Frontera e Sanlúcar de Barrameda.

Do lado leste temos o Mar Mediterrâneo, que afeta todo o litoral desde Málaga, passando por Valencia e Murcia, pelas Ilhas Baleares (Maiilorca), até a fronteira da França, onde a imponente cadeia de montanhas dos Pirineus forma uma barreira em toda a extensão, sendo fundamental para o funcionamento do clima na Catalunia.

O vasto território espanhol possui em seu interior diversos sistemas de montanhas que dividem o interior do país em rregiões praticamente independentes do ponto de vista climático: Extremadura, junto ao Alentejo, em Portugal, a grande área central de Castilla-La Mancha e Madrid, a área de Castilla y León e por último a região de Rioja, Navarra e Aragón.

Nossa divisão regional acompanha nosso foco de grupar as áreas de mesma influência climática, o que pode diferir de informações oficiais, que adotam na maioria das vezes uma divisão política.

Influências geográficas nas regiões vinícolas da Espanha

Influências geográficas nas regiões vinícolas da Espanha

Classificação dos Vinhos Espanhóis

A Espanha iniciou em 1997 o estudo de uma nova legislação sobre o vinho. Após 6 anos de discussão entrou em vigor em julho de 2003 a nova `Ley de la Viña y del Vino´ substituindo o antigo `Estatuto de la Viña, del Vino y los Alcoholes´ de 1970.

Apesar de persistirem controvérsias quanto às novas definições, a nova legislação vem impulsionando a modernização da vinicultura espanhola, com o surgimento de novas Denominaciónes de Origem (DO), o crescimento das exportações e a elevação de conceito internacional dos seus vinhos.

A nova lei criou novas categorias de vinhos e melhorou a definição das existentes, representando importante avanço junto às determinações da União Européia e à competitividade exigida pelo comércio internacional.

Uma novidade importante é a categoria de Vinho de Qualidade com Indicação Geográfica, abrigando vinhos de maior qualificação e personalidade que os Vinhos de Mesa e Viños de la Tierra e servindo como categoria ascencional para as DO.

Essa categoria equivale hierarquicamente à IGT da Itália e aos vinhos Regionais de Portugal.

VINO DE MESA com direito à menção tradicional VINO DE LA TIERRA

Que tenha sido delimitado levando-se em conta determinadas condições ambientais e de cultivo que possam conferir aos vinhos características específicas.

VINOS DE CALIDAD CON INDICACIÓN GEOGRÁFICA

Produzido e elaborado com uvas procedentes de uma determinada região, comarca ou localidade, cuja qualidade, reputação ou características se devam ao meio geográfico, ao fator humano ou a ambos, no que se refere à produção da uva, à elaboração do vinho e a seu envelhecimento.

DENOMINACIÓN DE ORIGEN (DO)

É o nome de uma determinada região, comarca ou localidade que tenha sido reconhecido administrativamente para designar vinhos que cumpram as condições de a) terem sidos elaborados na região com uvas dali procedentes; b) desfrutar de um elevado prestígio nos meios comerciais com relação à sua origem; c) cuja qualidade e características se devam fundamental ou exclusivamente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos; d) além disso, haver transcorrido pelo menos cinco anos desde seu reconhecimento como Viño de Calidad com Indicação Geográfica.

AS DOs são regulamentadas e fiscalizadas pelo Conselhos Reguladores, que cuidam das delimitações de território, seleção e autorização de variedades de uvas, determinação e acompanhamento do plantio de vinhedos, análise dos vinhos produzidos e sua certificação.

DENOMINACIÓN DE ORIGEN CALIFICADA (DOCa)

Deverá cumprir, além dos requisitos exigíveis para as DO: a) que tenham transcorrido pelo menos dez anos desde seu reconhecimento como DO; b) se comercialize todo o vinho engarrafado por bodegas inscritas e situadas na zona geográfica delimitada; c) conte com um sistema de controle desde a produção até a comercialização com respeito à quantidade e qualidade, que inclua um controle físico-químico e organoléptico por lotes homogêneos de volume limitado; d) está proibida a coexistência na mesma bodega com vinhos sem dirreito à DOCa, exceto Viños de Pagos classificados situados no mesmo território; e) deverá haver uma delimitação cartográfica, por municípios, dos terrenos aptos a produzir vinhos com direito à DOCa.

VINOS DE PAGOS

São originários de um pago, entendendo-se por tal um lugar ou sítio rural com características próprias de solo e microclima que o diferenciam e distinguem de outros em seu entorno, conhecido por um nome vinculado de forma tradicional e notória ao cultivo de vinhedos dos quais se obtenham vinhos com predicados e qualidades singulares, e cuja extensão máxima será regulamentada. Entende-se que existe vinculação notória com o cultivo de vinhedos quando o nome do pago venha sendo utilizado de forma habitual no mercado para identificação de seus vinhos pelo menos por cinco anos.

Caso a totalidade do pago se encontre incluída no território de uma DOCa, poderá receber o nome de Pago Calificado, desde que cumpra os requisitos exigidos para os vinhos daquela DOCa.

Consulte a página de Viños de Pago (aqui) para saber mais detalhes e ver a lista dos Pagos.

História

A Espanha, juntamente com a França, Itália e Portugal, compartilha uma história de vinicultura que remonta a milhares de anos, ligada ao Mediterrâneo, a estrada da antiguidade.

Século 6 aC ( 2700 anos )

Na fortaleza de La Quejada, em Albacete, foram encontradas ânforas Fenícias de transporte de vinho.

Século 2 aC ( 2300 anos )

Os Romanos fundam uma capital na Espanha, Tarrakón, mostrando a importância daquela colônia (hoje, Tarragona). O vinho local se torna o mais famoso do Império, o Tarraco

Século 7 ( 1400 anos )

Após a queda do Império Romano, a península foi dominada pelos Visigodos, que são históricamente considerados os fundadores da Espanha.

Eles foram responsáveis pelo desenvolvimento da vinicultura, praticada em altos volumes e baixa qualidade, mas devem-se a eles os primeiros plantios em altitude e ao desenvolvimento de práticas vitícolas que perduraram por Séculos.

Século 9 ( 1000 anos )

Após a guerra das Cruzadas, a Igreja vence os Mouros e recupera territórios ocupados, a partir daí os Templários passam a controlar diversas regiões como prêmio de sua conquista, restaurando a importância dos vinhedos e promovendo um desenvolvimento regional.

Nessa fase ganham forças as regiões de Conca de Barberá e Priorat, e o nome Rioxia / Riojia começa a surgir nos negócios.

Século 12 ( 900 anos )

Com o crescimento das ordens religiosas e a popularização do Caminho de Santiago, as regiões de Castilla e Pla de Bages ganham força. Nessa época o abade Raymond de Citeaux traz da Borgonha o que se acredita ser o promórdio da uva Tempranillo.

Século 13 ( 800 anos )

Agora a Rioja é conhecida como localidade produtora e outras regiões demandam reconhecimento, surgindo as primeiras medidas protecionistas contra a concorrência dos vinhos franceses e dando lugar às primeiras Denominações de Origem, ainda de forma espontânea.

Século XIV ( 700 anos )

A coroa apoia medidas protecionistas, decretando um impedimento aos vinhos estrangeiros.

Século 15 ( 600 anos )

Com o comércio britânico surge o prestígio do Jerez, apreciado na Inglaterra com o apelido de Canary Sack – (1665), um vinho fortificado oxidado que permitia longa conservação.

Exportado para a Inglaterra, o Jerez foi um sucesso durante 3 Séculos, sendo o vinho preferido de Carlos I da Inglaterra. Tamanha influência levou o Jerez a figurar na obra de Shakespeare, onde o personagem Falstaff boêmio e beberrão, negocia uma garrafa de Sack.

Século 19 ( 200 anos )

Durante a era industrial, surgem os vinhos finos, no estilo de Bordeaux, pois esse era o produto mais demandados pelos ingleses e seus clientes. Aqui aparecem nomes como o Marquês de Riscal ( Rioja ) e outras marcas que ganharam notoriedade e perduram até hoje.

Em 1857 o consumo interno chega a 115 litros por ano por habitante e em 1872 cria-se o Cava, espumante no estilo do Champagne.

Ao final do Século, a França é atingida pela Phylloxera, abrindo uma forte demanda para o comércio de vinhos espanhóis, acontecendo em 1890 a maior exportação da história da Espanha.

Século 20

Também atingida, a Espanha se recupera da Phylloxera e continua a evoluir e ampliar o mercado conquistado pelos seus vinhos durante a falta dos franceses, sendo notória a reputação atingida em 1915 pelo Vega Sicilia.

Com essa evolução, em 1932 é promulgado o primeiro Estatuto del Vino, um conjunto de regras para produção, e na seqüência surgem os Conselhos Reguladores de Jerez e Rioja, os grandes produtos comerciais até então.

Nessa esteira surgem as Cooperativas, que foram instrumentos de crescimento da produção, focando principalmente as exportações a granel em grande volume, mas de vinhos mal elaborados e de baixa qualidade. caminho que perdurou por muitas décadas.

As regiões de Utiel Requena, Manchuela, Almansa e Jumilla aparecem durante essa atividade, até que em 1980 toma lugar uma importante renovação técnica e enológica, alterando o perfil de produção.

1990 – A Década da Qualidade

A partir de 1990 a Espanha renasce com novos objetivos, reduzindo a produção dos vinhos para o comércio a granel, valorizando os Vinhos de Expressão, engarrafados pelo produtor, que, ao contrário do trabalho de cooperativas, trabalha para aprimorar a qualidade, elevando o valor comercial do seu vinho.

Em 2003, após intensa discussão, passa a nova legislação do vinho, com foco moderno, onde o vinho é declarado como alimento (reduzindo os impostos) e implantando novas Classificações com regras de produção mais claras, e um melhor escalonamento dos níveis de qualidade.

Nessa busca de qualidade e valor na produção, o mais importante passo foi o aperfeiçoamento das Denominações de Origem, criando a DOCa, um degrau superior e os Vinos de Pago, que instituem as pequenas produções de grande personalidade.

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