Carlos José Arruda
Professor







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19-setembro-11   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

As uvas da espécie Vitis Vinifera migraram desde sua originária Mesopotâmia, cruzando o Mediterrâneo e se espalhando por toda Europa, gerando em cada região variedades adaptadas ao clima e às condições geográficas, formando um mosaico de personalidades que responde pela diversidade de vinhos no nosso tempo.

A videira e sua história

Desde o início de sua jornada pelo mundo, a uva Vitis Vinífera, (a espécie da qual se produzem os bons vinhos) originária da Mesopotâmia, trilhou seu caminho pela Grécia, Egito, Itália, França, Península Ibérica, norte e centro da Europa, fincando raízes (literalmente) no velho continente e adaptando-se ao longo do tempo às diversas condições de clima e geologia.

Milênios se passaram até os nossos dias, e em cada região de cada país onde nossa Vitis se instalou as pessoas encarregadas de seu cuidado e da produção do vinho acompanharam, através de gerações, sua aclimatação e desenvolvimento, sua lenta adaptação com transformações particulares, ficando cada vez mais `sintonizada´ com as condições reinantes e respondendo a elas de forma única.

Evolução

O resultado dessa evolução? Em cada local, em cada mão, uma diferente variedade evoluiu com características únicas que a diferenciam das surgidas em outros locais. Outra variável nesse processo foi o tráfego de plantas entre regiões: os enólogos levavam uma planta que produzia bem em certo local para outro com condições similares, e o processo de adaptação prosseguia. O cruzamento de variedades também gerou novas uvas, enriquecendo e afinando o processo.

Com isso podemos hoje identificar centenas de variedades de uvas, cada qual com seu estilo, gerando também vinhos de personalidades gustativas bem diferentes. Com nomes de batismo consagrados ao longo do tempo, cada país desenvolveu suas campeãs, aquelas que produziram vinhos de melhor qualidade, se mostraram mais resistentes ao clima e às doenças, tornando-se um patrimônio de trabalho de uma comunidade.

Migração

Chamamos as uvas nativas (historicamente) de uma certa região ou país de uvas autóctones, nascidas no local.

No desenvolvimento da vinicultura mundial, algumas variedades de particular sucesso foram levadas para as novas regiões, principalmente no chamado Novo Mundo, os países desenvolvidos a partir da descoberta e colonização por europeus. Assim, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Syrah (Shiraz), Malbec, Tannat, ganharam nova vida em terras de além mar.

Seguindo essa onda migratória moderna, países como a Itália e Espanha viram as francesas Cabernet e Merlot invadir o território das uvas autóctones como a Sangiovese, na Toscana, por exemplo. Sucesso? Sim, nos últimos 15 anos vimos uma “`internacionalização´ do paladar, com super vinhos com totalidade ou mistura de uvas `estrangeiras´ contraccenando com vinhos típicos em regiões tradicionais. Com isso, instaurou-se também uma mesmice cansativa que aplaina a percepção e aponta para vinhos muito bons, mas muito parecidos entre si.

Valorizados e demandados, são um ótimo negócio para quem os produz.

Volta às origens

Aos poucos já se percebe uma `volta às origens´, onde os consumidores voltam a valorizar o diferencial e a personalidade única das uvas nativas das regiões. Países ricos em variedades autóctones vêm valorizando seus tesouros como Portugal com a Touriga Nacional, a Baga, a Tinta Roriz, a Espanha com a Monastrell, a Tempranillo e a Mencia, a Itália com a Nero d’Avola, a Primitivo, a Montepulciano, e por aí segue, com dezenas de ótimos exemplos cheios de personalidade, sabor e vida próprios.

A Grécia retomou há pouco tempo o cenário internacional, com vinhos poderosos e cheios de personalidade, feito de suas uvas milenares Agyorgítiko, Xinomavro, Limnos, Mavroud.

Melhor é impossível

Sempre digo aos meus alunos para experimentar novidades em lugar de repetir bons achados, pois a riqueza e variedade disponíveis no globalizado mundo do vinho de nosso dias é a mais interessante mercadoria. Um vinho desconhecido, inusitado e surpreendente sempre será a mais saborosa descoberta.

Acabo de provar um espumante italiano produzido com a uva Passerina.

Não conhecia, foi novidade, gostei muito, deixou saudade.

Melhor é impossível.

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