Limoux: A estrela do Languedoc
08-janeiro-12
Carlos José Arruda
Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.
HISTÓRIA
Relatos da época mencionam que Dom Pérignon aprendeu a colocar as borbulhas dentro do vinho de Champagne exatamente numa visita que fez a um monge amigo seu na abadia de St.Hilaire !! Na época ele estava preocupado em melhorar o conjunto de qualidade do vinho, das uvas e dos vinhedos.
A Abadia de Saint-Hilaire, onde foi criado o primeiro espumante, Blanquette de Limoux, em 1531 (foto Céline et Gilles Deschamps / CIVL)
Hoje é fato assumido que o mais antigo espumante de qualidade existente é o próprio Cremant de Limoux, e não o Champagne -- que se tornou disparado o mais famoso por marketing e vendas...
Oficializada em 1929, a AOC Limoux foi a primeira Apelação de Origem do Languedoc, com os vinhos Blanquette de Limoux e a Blanquette Méthode Ancestrale (1938) e foi também uma das primeiras apelações da França.
Seguiu-se o reconhecimento dos vinhos brancos em 1959, complementado em 1993 com regras sobre as uvas utilizadas, obrigando a 15% mínimo da Mauzac, variedade autóctone branca local.
Em 1990 foi oficializado o espumante Crémant de Limoux, e em 2004 surge a AOC Limoux Rouge. Assim foi formada a família de vinhos de grande personalidade de Limoux.
O TERROIR
Limoux está localizada na confluência mediterrânea e oceânica, com muito sol e chuvas bem distribuídas, revelando-se um celeiro para excelentes vinhos brancos, tranqüilos e espumantes. Ao pé dos Pirineus, os vinhedos avançam pelas encostas até 450 metros de altitude.
Visão típica do terroir de Limoux, com elevações iniciais em direção aos Pirineus
Dos 7800 hectares de vinhedos, 2000 são classificados AOC, divididos em quatro terroirs distintos de acordo com suas condições climáticas:
Autan
Altitude 100 a 250 metros, chuvas médias 570 mm/ano (as menores do setor).
Na área vizinha à cidade de Limoux, na parte baixa do vale do rio Aude, este terroir fica protegido dos ventos leste e oeste pelos maciços de Corbières e Chalabrais, nas encostas próximas à cidade de Limoux, Autan tem um clima seco e quente, favorecendo a maturação precoce, sendo a segunda colheita dentre os terroirs de da região.
Mediterrâneo (Méditerranéen)
Altitude 100 a 200 metros, chuvas médias 650 mm/ano.
Localizado a leste-sudeste de Limoux, na direção de Saint-Hilaire, Villebazy, Rouffiac e Pomas, fica protegido das influências atlânticas, seu clima quente é temperado pelos ventos do Mediterrâneo, mantendo uma umidade ambiente que favorece a formação de açúcar nas uvas. Nesse clima quente e úmido acontecem as primeiras colheitas da safra, produzindo vinhos de teor elevado e acidez mais baixa.
Oceânico (Océanique)
Altitude 200 a 300 metros, chuvas médias 780 mm/ano.
A oeste de Limoux, na direção de Loupia, Villelonge-dAube, esse terroir tem um clima úmido temperado, sujeito aos ventos úmidos do Atlântico, com chuvas mais acentuadas e apresentando períodos quentes. Aqui as uvas amadurecem tardiamente, cerca de 2 semanas mais tarde que no Mediterrâneo e no Autan, apresentando acidez mais elevadas.
Alto Vale (Haute Vallée)
Altitude acima de 250 a 420 metros, chuvas médias 850 mm/ano.
Subindo o rio Aude em direção dos Pirineus, entre as cidades de Bouriège, Roquetaillade e mais acima, Saint-Couard-du_Razès, esse território mais rude, úmido e frio tem uma primavera tardia e um outono fresco, causado pelos ventos frescos do oeste.. Aqui as colheitas chegam a se iniciar quando já terminaram em outros locais. É o terroir perfeito para a Chardonnay, que amadurece lentamente e desenvolve uma grande fineza aromática e também para a Merlot.
Aqui, cada encosta constitui um microclima diferente, e as variações de clima em cada safra marcam definitivamente os vinhos.
Os brancos desse terroir são os de maior personalidade entre os quatro e levam de 2 a 3 anos para mostrar toda sua complexidade.
SINALIZAÇÃO FLORAL
Em uma simpática iniciativa denominada `Vignobles Paysagers´, os vinicultores de Limoux decidiram plantar árvores diferentes e rosas de cores escolhidas em cada um dos quatro terroirs, permitindo aos visitantes identificar de imediato cada um dos territórios de Limoux.
Assim, teremos rosas amarelas em Autan, vermelhas no Méditerranéen, rosadas no Océanique e rosas laranjas no Haute Vallée.
Blanquette de Limoux
A grande estrela da história de Limoux, é um espumante brut feito apenas com uvas brancas, baseado na variedade tradicional, a Mauzac. Podem ser usados 10% de Chardonnay e Chenin Blanc.
Aqui são reunidas uvas dos diferentes terroirs, buscando-se complexidade. A segunda fermentação é feita na garrafa (método tradicional) e os vinhos repousam por 9 meses com as borras e mais 9 meses nas caves antes da venda.
Fresco e com muitas bolhas, o Blanquette mostra aromas de frutas brancas frescas, flores e mel e deve ser consumido ainda jovem. Ideal como aperitivo, é um espumante fresco e agradável, com sabores que evocam o clima do sul da França.
Blanquette Méthode Ancestrale
Também é produzido um espumante pelo chamado Método Ancestral, totalmente natural e atrelado a uma precisa fase da lua, sem a qual a elaboração misteriosamente não tem sucesso.
Nada de mistura de uvas ou maturação: aqui se usa apenas a Mauzac, fermentada parcialmente e engarrafada na lua minguante de março, desenvolvendo a espuma e atingindo 6-7 graus de álcool.
A leveza encantadora desse vinho reside em sua delicadeza aromática. Levemente adocicado, é adequado para sobremesas ou aperitivos informais. Deve ser servido bem gelado, aberto na hora do consumo, sem balançar a garrafa, mantendo um leve depósito no fundo da garrafa.
Crémant de Limoux
Rico e complexo, esse espumante é baseado nas uvas Chardonnay, Chenin Blanc e Mauzac, associadas à uva tinta Pinot Noir (máximo 10%) que lhe confere maior estrutura.
A segunda fermentação é feita na garrafa (método tradicional) e os vinhos maturam com as borras durante 9 meses, descansando nas caves por no mínimo 15 meses
Cremoso e elegante, o Crémant de Limoux desenvolve aromas de flores brancas e frutas cítricas, seguidas de notas de pão tostado e uma delicada mineralidade.
Limoux Brancos
Os brancos de Limoux são produzidos em quantidades limitadas, usando as uvas Chardonnay, Mauzac (mínimo 15%) e/ou Chenin Blanc.
A fermentação acontece em barris de carvalho, com maturação com as borras (sur lie) por 2 meses ou mais.
Conforme as uvas utilizadas e o terroir de origem esses brancos saborosos e elegantes mostram notas de baunilha (vindas da barrica), cascas cítricas cristalizadas, avelãs tostadas, flores brancas, frutas carnudas e uma marcante mineralidade. Cada um dos 4 terroirs de Limoux produz um branco de personalidade única, fazendo da região um celeiro de vinhos marcantes.
Os brancos de Limoux se degustam não muito gelados (10 ºC) acompanhando mexilhões, peixes, frutos do mar, terrines e patês, bem como queijos de cabra e ovelha.
Limoux Tinto
Oficializado somente em 2004, o Limoux Rouge é produzido hoje em pequena escala, seguindo regras rígidas que garantem sua personalidade, como baixa produtividade dos vinhedos e controle fino da maturação das uvas.
Aqui se utilizam de 3 a 7 uvas, com um mínimo de 50% de Merlot, acompanhada de Malbec (Côt), Syrah, Grenache e Carignan, além de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. O resultado é um tinto rico, elegante e de personalidade única, que surpreende a todos os que o degustam.
Conforme as uvas utilizadas, o Limoux Rouge pode apresentar aromas de ameixas, couro e alcaçuz (Cabernet, Merlot, Côt), ou também aromas de frutas vermelhas bem maduras, ervas aromáticas e especiarias (Syrah, Grenache, Carignan).
Este tinto saboroso acompanha carnes grelhadas em temperos exóticos e também pratos de carnes de longo cozimento.
SIEUR D`ARQUES
Uma importante referência em Limoux é a cooperativa Sieur d`Arques, que leva o nome do antigo senhor feudal administrador da cidade.
A Sieur d`Arques produz vinhos e espumantes em todas as AOC de Limoux, além de outros de apelação Languedoc e também Vin de Pays.
A parada dos produtores, que antecede o grande leilão da festa `Toques et Clochers´
A cooperativa realiza anualmente um festival denominado Toques et Clochers (que também é o nome de sua linha mais alta de vinhos), composto de um grande festival gastronômico com chefs convidados (toque é o chapéu dos chefs), seguido de um leilão de vinhos excepcionais de vários produtores (ainda em barricas).
Parte da arrecadação do leilão é destinada ao Patrimônio Histórico, para restauração de igrejas e seus campanários (clochers), numa simpática iniciativa.
Os vinhos arrematados no leilão são engarrafados com alusão ao nome do comprador, constituindo uma reserva especial limitada e exclusiva.
Fonte: Conseil Interprofissionel des Vins du Limoux
Site: www.limoux-aoc.comQuer entender de vinhos?
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