Champagne é região da França.
Das regiões vinícolas francesas, Champagne é a mais famosa, graças a seus vinhos espumantes sempre associados às comemorações, ao romantismo e sobretudo ao prazer, além de um grande esforço de divulgação empreendido pela associação de produtores.
É importante entender que Champagne é o nome local de uma região, conhecido e usado pelos produtores locais há séculos. Quando da criação da AOC, o nome do produto herdou o nome local, como aconteceu com inúmeras apelações francesas.
A inegável qualidade dos espumantes de Champagne se deve às características únicas do clima e dos solos, tornando-o um produto inimitável.
Champagne se tornou um produto demandado, despertando o interesse do comércio mundial - e a proliferação de inúmeros espumantes que se aproveitaram do nome famoso para se promover.
A partir da segunda metade do século 20, o consórcio dos produtores de Champagne passou a atuar intensamente em duas frentes:
- Fiscalizar e exigir o cumprimento do respeito à marca, solicitando a todos os países produtores de espumantes não usar o nome Champagne em seus produtos. O slogan da marca é Só é Champagne se for da Champagne, pois devido ao seu sucesso, espumantes em todo o mundo adotaram o seu nome.
- Promover a marca, associando-a ao consumo do luxo, ao glamour, charme e elegância em situações refinadas, ressaltando o caráter único do produto, tudo isso para manter uma percepção de alto nível que justifique os altos preços. O maior alvo dessas ações é o mercado internacional.
SUB-REGIÕES DE CHAMPAGNE
Na região de Champagne existem 6 sub-regiões produtoras, entendidas separadamente devido às suas características diferenciadas de microclimas e solos, mas todas produzem vinhos classificados pela AOC única, Champagne. São elas:
Montagne de Reims
Vallée de la Marne
Côte des Blancs
Côte des Bar
Côte de Sézanne
Vitry-le-François
Mapa vinícola da Champagne (imagem Comitê Champenois)
Apesar de sua extensa área de produção - 34 mil hectares - a região de Champagne tem apenas uma AOC, o que mostra como essa região é focada no prestígio da marca, evitando diferenças internas entre produtos - tudo é Champagne.
São 5 sub-regiões, todas produzindo sob a mesma AOC: Côte des Bar, Côtes des Blancs, Côte de Sèzzanne, Montagn ede reims e Valée de la Marne.
A AOC Champagne foi criada em 1927, com a definição dos seus limites, mas esse território já era trabalhado pelos vinicultores há muitos séculos, explorando suas condições múltiplas bastante particulares.
- Localização setentrional (mais ao norte), tendo portanto um clima frio e severo para os vinhedos.
- Oceânico, com presença de regular de água que mantém contrastes pouco marcados entre estações.
- Continental, marcado por geadas por vezes destrutivas no inverno e insolação favorável no verão.
Assim, o reconhecimento da Apelação em 1936 consagrou um processo de produção de muitos séculos.
A AOC estabelece um conjunto de regras para plantação, viticultura, colheita, prensagem, etapas de elaboração e apresentação do produto.
O clássico produto de Champagne - seu espumante - é produzido pelo método Champenoise, ou segunda fermentação em garrafa, seguido de maturação com as borras de 15 meses mínima para os vinhos não safrados e de 3 anos para os safrados. Após esses prazos os espumantea passam pela degola (degorgée) e podem ser comercializados.
Os Champagnes de alto nível passam por maturações de até 10 anos, gerando produtos de alta qualidade, preço e expectativa de longevidade.
As regras são revistas e otimizadas constantemente, aqui as principais alterações:
1978 - Altura, espaçamento e e densidade das plantações
1984 - Impedimento de e4ngarrafamento antes de 1º de janeiro seguinte à colheita
1991 - Concordância obrigatória dos centros de prensagem
1993 - Rendimento de prensa de 160 quilos para produzir 102 litros de mosto
Prensagem
Sobre essa última exigência, uma das diferenças fundamentais na produção do Champagne, em comparação com outros espumantes, é a prensagem escalonada, que permite separar um mosto de primeira, segunda e terceira prensagens, obtendo uma matéria prima muito qualificada para a produção. Ao reduzir o volume de mosto produzido de um mesmo volume de uvas, estamos selecionando um suco obtido por menor pressão, evitando as partes da uva próximas à casca e às sementes.
Desde 1960 foi criado um observatório de plantas para pesquisar as melhores variações genéticas das uvas típicas.
Ao longo de décadas de trabalho, foram selecionados 50 clones ideais das três variedades principais, os quais são reproduzidos pelo Comité, que distribui as mudas certificadas.
Os Crus
Dentro do vasto território de produção, as grandes marcas de Champagne utilizam uvas de centenas de vinhedos diferentes para sua elaboração, caracterizando um grande `blend´ dentro do território como um todo. Contudo, alguns vinhedos identificados como de maior qualidade são exclusivos para a elaboração dos grandes vinhos da região, surgindo assim as classificações de Premier Cru e Grand Cru, que são oficiais.
Operação de Rémuage das garrafas nas pupitres (foto Rohrscheid - Comité Champagne)
Pinot Noir - 38%
Pinot Meunier - 32%
Chardonnay - 30%
Pinot Blanc, Pinot Gris, Arbane
Por sua localização no extremo norte, Champagne apresenta um clima bastante frio que dificulta o crescimento das videiras e causa inconstância na produção de ano para ano.
Isso explica porque os Champagnes são tradicionalmente elaborados por assemblage (corte) de vinhos de diferentes vinhedos e de diferentes safras, não apresentando uma safra no rótulo, em sua maioria (NV-Non Vintage).
Apesar da fama do seu produto, o terroir de Champagne é pouco conhecido tecnicamente.
Duas Particularidades
Esse terroir tem duas particularidades marcantes que o tornam tão especial:
1 - Situado no limite para a cultura de vinhedos - Reims está a 49,5 º de latitude norte, com temperatura média anual de 11ºC.
2 - Sua influência de duplo clima, principalmente oceânica, com tendência continental. É uma combinação complexa: dentro do grupo de terroirs similares, o território champenoise possui uma temperatura mais elevada, com diferenças térmicas pequenas ao longo do ano.
Insolação
A insolação em Champagne é menor - 1650 horas/ano - comparada a Bordeaux (2069) e Borgonha (1910).
Em algumas safras esse valor pode aumentar, modificando de forma importante o estilo dos vinhos.
Influência Continental
As geadas da primavera, que acontecem no momento da brotação, podem destruir os brotos.
As geadas de inverno, que podem criar temperaturas inferiores a -10ºC, podem destruir até as próprias plantas.
Chuvas ideais
A dupla influência climática garante uma pluviosidade regular (oceânico) e moderada (continental), favorecendo um aporte quase ideal para a qualidade das uvas.
Subsolo Calcário
A composição do subsolo em Champagne é em maioria calcária. Os solos superficiais também são 75% calcários, compostos de giz, blocos argilo-calcários (marnes) e pedra calcária propriamente dita.
Esse tipo de solo favorece a drenagem de águas e também influencia particularmente na mineralidade dos vinhos.
O Giz Calcário
O Giz champenoise é composto de grãos de calcita provenientes de esqueletos de microorganismos marinhos e fósseis de moluscos. A forte porosidade desse solo cria um verdadeiro reservatório de água (300 a 400 litros/m3)
como uma esponja, o que garante a alimentação das plantas nas épocas mais secas.
A capilaridade do giz calcário obriga as plantas a lutar para absorver essa água, criando um fluxo moderado e constante que favorece o equilíbrio entre os ácidos da fruta, o açúcar e os precursores de aromas futuros.
Vinhedos nas Encostas
O terceiro aspecto característico do território champenois é o relevo: as inclinações favorecem a insolação, preciosa nessa latitude, e facilita o escoamento das águas.
Os vinhedos nas encostas e o subsolo de giz calcário (foto Fulvio Roiter - Comitê Champagne)
Região de Champagne | |
Latitude: | 49º 30´ |
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Topografia: | Colinas suaves |
Clima: | Oceânico e Continental, uma dupla influência |
Chuvas: | Média anual de 674 mm/ano |
Temperaturas: | Média anual 11ºC |
Solos: | Solo calcário com subsolo de giz calcário poroso |
Prensas tradicionais de Champagne (foto Michel Hetier - Comité Champagne)
Os Champagnes apresentam vários aspectos diferenciados, que vão desde a qualidade e a procedência das uvas utilizadas até ao estilo de vinificação empregado na sua elaboração, levando à exitência de muitos tipos ou estilos de Champagne:
Quanto ao tipo de uva utilizada
Blanc de Blancs - feito a partir de um vinho base branco de uvas brancas;
Blanc de Noirs - feito a partir de um vinho base branco de uvas tintas;
Rosé - feito a partir de assemblage (mistura) de vinhos bases blanc de blancs e blanc de noirs.
Quanto à procedência das uvas
A qualidade é indicada pela palavra Cru, que designa um vinhedo específico de uma comuna e só aparece nos rótulos dos Champagnes de qualidade e que tiverem um mínimo das uvas de um único vinhedo, diferenciando os seguintes Crus:
Deuxième Cru - feitos com 80 a 89% de uvas de um único vinhedo.
Premier Cru - elaborados com 90 a 99% de uvas de um único vinhedo, certificados em 41 comunas.
Grand Cru - produzidos com 100% de uvas de um único vinhedo, estão no topo da qualidade. Só recebem esta designação vinhedos de 17 comunas: Ambonnay, Avize, Ay, Beaumont-sur-Vesle, Bouzy, Chouilly, Cramant, Louvois, Mailly Champagne, Le Mesnil-sur-Oger, Oger, Oiry, Puisieulx, Sillery, Tours-sur-Marne, Verzenay e Verzy.
Quanto à safra
Não safrado - é o caso da maioria dos Champagnes que não têm safra (millésime) declarada, pois são feitos por assemblage de vinhos de vários anos, prática que permite manter o nível de qualidade, pois há anos em que a safra foge às características desejadas.
Millésimé - Champagne safrado, produzido só com uvas da safra do ano declarado no rótulo. Como isto só acontece nos anos de grandes safras, estes são os melhores Champagnes.
Quanto ao teor de açúcar
Quando se deseja um Champagne com teor de açúcar superior ao natural, adiciona-se ao espumante já pronto o chamado licor de expedição, que é um xarope elaborado com vinho maduro e açúcar de mosto, geralmente um segredo de cada produtor. Dependendo da quantidade de licor adicionada, o Champagne terá maior ou menor concentração final de açúcar, e é classificado nos seguintes tipos:
Extra-Brut (Extra-Bruto) - não recebe licor - açúcar = 0 a 6 g/litro (este tipo é também denominado Pas-dosé ou Sauvage ou Brut-Zéro ou Brut-Intégral ou Nature);
Brut (Bruto) - recebe 1% de licor - açúcar = 6 a 15 g/litro;
Extra-Sec (Extra-Seco) - recebe de 1 a 3% de licor - açúcar = 12 a 20 g/litro;
Sec (Seco) - recebe de 3 a 5% de licor - açúcar = 17 a 35 g/litro;
Demi-sec (Meio-Seco) - recebe de 4 a 8% de licor - açúcar = 33 a 50 g/litro;
Doux (Doce) - recebe de 8 a 15% de licor - açúcar = acima de 50 g/litro.
Quanto ao tempo envelhecimento
Antes de realizar o rémuage, as garrafas podem permanecer na cave envelhecendo por um período diretamente proporcional à qualidade do Champagne: um ano para os comuns, não safrados, e até sete anos ou mais para os especiais (millésimés, tête de cuvée, cuvée, etc.).
Quanto à data do dégorgement
Os Champagnes de alta qualidade e envelhecidos por longo tempo, como os millésimés, sofrem o dégorgement apenas poucos meses antes de serem comercializados e, por isso, recebem no rótulo as letras RD, isto é, Récemment Degorgé (Recentemente Degolado)
Baixo relevo mostrando Dom Pérignon em sua cave (foto Michel Jolyot / Moët Chandon)
Uma vertente de historiadores atribui a criação do Champagne a Dom Pérignon (1638-1715), um monge Beneditino que se ocupou de vinhedos e vinhos em sua abadia. Essa afirmação é contestada por vários outros entendidos, e atribui a invenção do vinho espumante em época anterior (1531), em Limoux.
À parte essas considerações, pode-se afirmar, a partir de documentos, que o Champagne é, no plano histórico, o primeiro espumante produzido em um território determinado e de forma regular por produtores locais.
Dom Pérignon
Entretanto, Dom Pierre Pérignon tem o mérito da criação de várias técnicas e procedimentos vitivinícolas que são usadas até hoje na sua região:
- Combinar uvas para manter qualidade e consistência
- Produzir vinhos brancos a partir de uvas tintas
- Uso de garrafas mais grossas para impedir sua explosão durante o processo
- Fazer prensagens parciais das uvas para separar os mostos de diferentes qualidades
- Escolher o melhor momento de engarrafar o champagne para preservar as bolhas
Phylloxera e Modernização
Até o final do século 19 o vinhedo de Champagne era vasto, atingindo 60.000 hectares, mas tudo foi destruído pela Phylloxera, levando à criação da Associação Vitícola Champenoise para lutar contra o problema.
A substituição obrigatória de todas as plantas trouxe o progresso, com melhorias no sistema de condução, redução da densidade de plantio e novo sistema de poda, mas principalmente o replantio apenas nos melhores terroirs, perfazendo 12.000 hectares em 1919.
Nessa época começou o trabalho em prol da exclusividade do uso do nome Champagne à região do mesmo nome, e se iniciou o processo de delimitação, obtida em 1927.
AOC Champagne
Em 1936 a AOC Champagne foi oficialmente reconhecida.
Ficaram autorizadas as uvas tradicionais - Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, como principais e Pinot Blanc, Pinot Gris, Arbanne e Petit Meslier como coadjuvantes. Nos anos seguintes acontece uma superprodução, que levou à fixação de regras de qualidade:
- Rendimento máximo na colheita
- Gradação alcoólica mínima
- Rendimento na prensagem
- Envelhecimento
Depois da reforma do INAO em 2007, as regras vigentes são as publicadas em 2010.
Dados de Produção de Champagne | |
Área de Vinhedos: | 34.000 hectares |
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Produção de Vinhos: | 360.000.000 garrafas |
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